domingo, janeiro 31, 2021

 

DISCO SAMBA: UMA DESCOBERTA


Por Daline Rodrigues Gerber

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sexta-feira, junho 10, 2011


CULTURA SURDA

Por Daline Rodrigues Gerber

Cultura é um conjunto de manifestações ideológicas e comportamentais compartilhado por um grupo substancial de pessoas. As culturas podem interagir umas com as outras ou serem suprimidas por uma cultura dominante.

Os EUA, como superpotência, é um bom exemplo para entendermos um pouco como funciona a relação e influência de uma cultura dominante sobre uma cultura pouco evidente. Hoje, a primeira coisa que pensamos quando planejamos conhecer outros países é aprender a língua inglesa falada nos EUA e sabemos também que em qualquer lugar onde formos encontraremos elementos oriundos deste país. Alguns países aderiram numa proporção tão grande a cultura norte americana que é necessário, muitas vezes, viajar a regiões afastadas dos grandes centros para conhecermos grupos que ainda conservam manifestações típicas, nascidas dentro do país visitado. De certa forma, chega a ser nítida a supervalorização da cultura norte americana em detrimento de outras.

Você conhece a cultura surda? Alguns questionarão: “Existe uma cultura surda?” Outros dirão: “Sim, conheço”. Mas o curioso é descobrir que existirão pessoas surdas que desconhecem o que vem a ser uma cultura surda. Toda cultura é propagada, firmada e estabelecida por meio de uma língua, portanto este é um instrumento fundamental para os grupos firmarem suas identidades. É preciso ressaltar, ainda, algo que passa despercebido, muitas vezes: uma língua é uma cultura, ou seja, é um elemento identificador de um grupo, assim: alguém sabe que sou brasileira, porque descobre que falo português brasileiro, bem como eu reconheço uma pessoa estrangeira por seu sotaque e, por fim, identifico uma pessoa surda brasileira por falar utilizando a LIBRAS (Língua Brasileira dos Sinais).

Ao longo dos anos, a comunidade surda, sujeitos visuais, e algumas pessoas que entendem a importância da comunicação vêm trabalhando por uma língua com regras estabelecidas, de forma que nela se preserve uma unidade de entendimento para que possa ser executada em qualquer região do país em que foi engendrada. Hoje, muitos países já instituíram a língua dos sinais como uma língua nacional, a exemplo do Brasil. Este é um passo importante para a educação e para a inclusão social.

Todos sabemos que o individuo começa a entender suas peculiaridades e suas características pessoais e sentimentais na lida com semelhantes inseridos na mesma sociedade em que vive, no mesmo país, no mesmo mundo. Hoje, há consciência suficiente em relação a inclusão social, o que gera entendimento de que uma limitação física não invalida um ser humano, tendo este direito e capacidade para realizar tarefas e se relacionar socialmente tão bem quanto qualquer pessoa.

Entendo que o que move o comportamento de uma sociedade é, em grande medida, o sentimento. Isto pode parecer romântico de minha parte, mas, se analisarmos minuciosamente, diagnosticaremos a competitividade, o consumismo, o desejo de comodidade, o medo, o preconceito, a exclusão como manifestações de sentimentos bem ou mal trabalhadas por uma pessoa ou por um grupo de pessoas. Partindo da consciência de que somos responsáveis ativamente pelas ações sociais e propagação dos sentimentos sociais, entenderemos que, para uma sociedade melhorar, os sentimentos que a movem devem ser educados para o bem. A sociedade é feita por nós. A inclusão não depende de um governo acima de nós, somos o governo. É necessário que sofistiquemos nossa sensibilidade quanto a qualquer ser humano, deficiente ou não, a ponto de que o desejo de inclusão não parta apenas de quem apresenta alguma limitação física ou mental, mas de todos nós, compostos da mesma matéria, necessitados de comida, bebida, ar, luz, plantas, animais... e do outro, do outro, do outro que nos enxerga, que produz, que planta, que ama, que sofre, que vive, que morre.

domingo, novembro 07, 2010


CRIAÇÃO, CULTURA E JONGO

Por: Daline Rodrigues Gerber

Nós, humanos, somos os únicos seres ilimitados na arte de criar, pois, criamos, através do que já há na natureza, objetos, instrumentos, movimentos, monumentos, etc. e inventamos também realidades, seres, mundos imaginários. Esta característica humana é incessante, atravessa gerações, temos, inclusive, dados comprobatórios na própria pré-história. A partir daí conclui-se que homem, arte/criação e cultura realmente são indissociáveis.

Parece interessante fazer uma prévia do que inventamos ao longo dos séculos: Lanças e flechas para a caça de animais, desenhos nas cavernas, paredes, telas para registro de acontecimentos e impressões da vida objetiva e subjetiva, esculturas também com o mesmo fim, a escrita, artesanatos, roupas, calçados, construções para moradia, culto a Deus ou a Deuses, construções para culto a vida e a morte, ou locais para apresentações artísticas, inventou-se a roda, a engrenagem, a carroça, a fábrica, as máquinas agricolas, o carro, o trem, o avião, o foguete, a fotografia, o rádio, a televisão, telefone, a culinária, remédios e instrumentos de medicina, instrumentos de guerra e de tortura, entre outras coisas.

Há muita coisa boa e do bem que foi criada, pensada para nos unir, nos salvar do frio, da fome, das doenças. Entretanto, também inventamos coisas para ferir, matar, humilhar, tanto instrumentos físicos, quanto instrumentos ideológicos: palavras, leis, mitos.

Desde que o homem é homem, temos dificuldades em levarmos uma vida sem conflitos, guerras, inimizades, intolerância, exclusão, individualismo. Estes comportamentos nasceram junto com o inconformismo de aceitarmos que somos iguais dentro das nossas próprias diferenças. Não aceitamos, por exemplo, a multiplicidade de como é visto e sentido o amor, a diversidade de cores, tipos físicos, escolhas. Cada grupo e cada individuo cria em seu imaginário um homem perfeito e uma sociedade perfeita e acaba se frustrando e repugnando o que existe. Este comportamento ocorre tanto em grupos de pessoas pobres, quanto - e talvez mais ainda - em grupos ricos e eletizados. É natural ficarmos inconformados quando um grupo ou pessoa trata o seu próximo como insignificante, escravo, objeto, coisa e é muito natural também que briguemos pela igualdade de ser-humano... o incoformismo anti-natural é o inconformismo cultural, em que as pessoas não aceitam a crença umas das outras, a opção sexual e afetiva umas das outras, o modo como se vestem, se são ou não tatuadas, se têm vícios ou não. Cada um deve respeitar seu próprio espaço e contexto, sem ultrapassar os limites do respeito pelo outro, tudo é permitido, mas nem tudo é permicível, basta termos bom senso em como e onde exerceremos nossa liberdade, para que a diversidade vigore e se revigore.

Há pouco tempo conheci o Jongo através da minha amiga Carolina Oliveira. A principio estranhei um pouco a dança e a música, afinal, não faziam parte de algo com que convivia, não era algo de que tinha conhecimento pleno e enbasado. Em sua casa, Carol ligou o som e começou a me passar os primeiros passos da dança. Me pareceu difícil a princípio, mas com o tempo fui me envonvendo de tal modo com o tambor e com a diversão de jogar com o corpo que pretendi ir mais além, e fui. Numa quinta-feira, eu e Carol, com saias rodadas fomos à Cantareira (Gragoatá - Niterói - RJ) participar da Roda de Jongo Folha de Amendoeira. Dancei pouco e desengonçada. Mas fiquei encantada com a solicitude dos dois rapazes de garra que tiveram a iniciativa de fazer uma roda de jongo aberta, em plena praça, de quinze e quinze dias na praça: Rodrigo Rios e Elias Rosa. Enfim, toda gente reunida numa roda, olhando um ao outro, contemplando um ao outro, com sorrisos, com alegria verdadeira. Hoje faço parte do grupo com muito orgulho e - é verdade - com muito pouco tempo para me dedicar mais.

A história do Jongo é muito bonita e corajosa. Como sabemos, a ambição sempre foi um grande inimigo da união, assim, os europeus com sua sede territorial e economica, nos séculos XV e XVI, começaram a explorar os mares e invadir lugares para aumentar suas riquezas. Portugal se apoderou do território Brasileiro onde havia grande riqueza natural, como a Africa não era tão rica em termos de recursos naturais para as necessidades dos portugueses da época, Portugal utilizou a politica da escravidão, ou seja, exploram a Africa em outro sentido. Os indios resistiram, eram delicados, trabalhavam apenas para a sua sobrevivencia, tinham dificuldade em se curvar. Entretanto, os africanos já conheciam o trabalho duro e já conheciam a escravidão, pois foi um regime utizado entre eles mesmos: "(...) Muitos séculos antes da chegada dos brancos europeus à África, as tribos, reinos e impérios negros africanos praticavam largamente o escravismo, da mesma forma os berberes e demais etnias muçulmanas." Escrevo, entretanto não tenho como garantir veracidade, são livros de história escritos por europeus que me informam tal dado. Bom, enfim, o negro foi tido pelos brancos como animais, seres sem alma, sem pátria, sem cidadania, máquinas do trabalho. Algumas famílias portuguesas se instalaram no Brasil em casas de fazendas, nelas construiam senzalas onde ficavam multuados os negros vigiados por aquele a quem conhecemos como capacho. Nos poucos momentos de lazer que os negros tinham, eles dançavam, cantavam e tocavam tambor. Em seus cantos não podia haver palavras de ameaça ou desrespeito aos seus "senhores", com isso, os negros se esforçavam para inventar expressões metafóricas que fossem capazes de comunicar aos outros suas insatisfações, seus sentimentos amorosos, e até mesmo cantos que fossem capazes de combinar fugas e ataques aos brancos. Assim, resistiam os negros: com o corpo, com a voz, com a dança, assim, eles reafirmavam a condição deles de humanos, de seres pensantes, desejantes e amorosos.

Por lei, hoje, todos os seres humanos são livres. O importante, acredito, não é mais o papel, o importante agora é a consciência de que somos iguais, de que somos todos dignos, importantes, de que toda religião tem suas peculiaridades, mas com fins muito próximos, é necessário sabermos que todos nós contribuímos para a preservação ou destruição do mundo com nossas invenções concretas ou imaginárias-ideológicas. A idéia de raça já caiu por terra, não é justo termos ainda que ouvir que uma pessoa que traz na pele o tom preto-marrom dizer que é discriminada, que tem que lutar para ser incluída na sociedade, sendo que todos somos mestiços, temos avós, bisavós ou algum antepassado africano, indio, etc. Não é justo ter que sustentar um discurso em defesa dos negros quando negros somos todos nós.

Quando estou na roda de jongo presto atenção nas pessoas e em quanto bem uma tradição que surgiu dentro do sofrimento pode fazer para as pessoas. Ali na roda há uma multiplicidade incrível de cores, alturas, tipos físicos... é quando vejo que as pequenas manifestações podem ter grandes proporções: é o que acontece na rua que é capaz de unir as pessoas, não é o que acontece na televisão, na ficção. Na roda, as pessoas se vêem, se escutam, trocam grande energia renovadora. É preciso apenas tomar cuidado para não quebrar essa magia com discursos de desafetos, ofensas, exclusões. Nunca na minha vida eu tinha visto algo tão capaz de unir as pessoas, que isso se preserve, que resista, que persista, que alcance várias e várias gerações. É criação nossa, minha gente, e tem tudo para ser, estar e permanecer do bem.

Com carinho, Daline.

sexta-feira, julho 10, 2009

As sem razões da escrita
Daline Rodrigues Gerber, 2006.

Luto contra e a favor do tempo, escrevo por isso... Ele vai modificando tudo o que existe ao redor, é o Deus mais sagaz e voraz. Necessário, combatê-lo é inter-agir com sua maldade e abraçá-lo nos segundos líquidos de sua nascente. Junto do tempo eu grito, mas o meu grito some, acaba, morre, ele não, e quando sinto alegria, amor, contentamento, logo seu movimento vai arrebentando horizontes, fazendo de meus olhos descontentes ou tornando-os inexplicáveis, inalcançáveis, voltados à alma escura e invisível .

O que fica de mim neste mundo, oh, Deus impiedoso? Fica um pouco de meu queixo no queixo de minha filha? Que filha? “Nada fica de nada”... Mas eu escrevo, eis o meu mais valioso trunfo: minha filha é a poesia. Não tão cega é a esperança de que ela seja eterna, mas é cega a vontade de pari-la e dá-la a qualquer um, como uma mãe sem compaixão, no entanto estranhamente orgulhosa...

Os paradoxos são eternos, eu e Cronos os conservamos. Vê, então, digo, pois, que, depois de mil anos de minha existência, o tempo que corre, foge, segue como uma flecha caindo num abismo, preserva na humanidade os antigos e repetidos paradoxos (rocha inquebrável)... E quem disse que o seu paradoxo, homem do ano 3.000, não é como o meu, mulher de 2.006? E quem disse que o seu não é o meu? Repara que o seu conflito, sua crença, seu amor, seu ódio é o meu personalizado, é um novo texto a existir só por ter existido o meu e os de outros seus antepassados... E os textos existem fora do papel, ou não seria a própria vida um texto? Mas quando a vida é só vida e não é, também, arte, nem tão bonita, significante ela pode parecer, talvez, cá entre nós, ela nem seja mesmo. Eu faço arte hoje para viver por inteiro e para ver se, quem sabe, alguém ame minha caveira, como amo a de Drummond, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, etc. Já posso ouvir meus ossinhos batucando de tanta alegria dentro do caixão por causa destes amores que, sem esta minha mania de registrar pensamentos, não seriam possíveis. Do caixão mando um beijo a todos, a recíproca é verdadeira.

Deus me livre não escrever! Quando eu mesma posso ser minha analista, por que ficar horas falando, falando com um psicólogo? Sem falar, eu não me permito dar vazão a minha alma, sem dúvida, mas, a medida em que escrevo, ato narcísico e filosófico, releio o que disse e registro uma faceta minha que nunca antes se revelara, e, assim, quando tudo parece que já foi dito, me permito dizer e achar outra coisa. Quando utilizo o verbo ser, engano a mim, defendendo e definindo um ponto de vista, construo uma retórica e uma catarse. Depois, utilizando o verbo ser novamente, descontruo a tudo o que foi dito e redefino coisas indefiníveis.. Acredito que a interação do homem com as possibilidades gera vidas muito mais sanas e satisfeitas. Se no mundo real não posso voar sem asas, farei isso, satisfatoriamente, no meu quarto com meu caderno e caneta e me sentirei muito feliz. Agora, faça o favor de não abafar a voz das minhas possibilidades, porque não pedi sua opinião, ora bolas.

Poder? Sim, adoro o poder que as palavras me dão, mas repudio o uso esdrúxulo delas, num sentido mais político, se é que vocês me entendem. Há que se ter cautela ao se drogar com poder, pois ter poder é bom como fazer amor, entretanto o importante nisto é amar e amar, com o pensamento e sentimentos voltados para o bem de si e do ser amado. Quando nos fazemos egoístas, destruímos o próprio amor, tornamo-nos poderosos negativamente... Tudo em excesso causa prepotência e destruição. Escrever é fingir, deixamos de falar em nome da verdade para construir uma. Escrevemos e falamos, portanto, ilusões, se estas ilusões quando atingem ao outro, o libertam, eis que o bem se fez. Se as ilusões se lançam para enganá-lo e aprisioná-lo, eis que o mal do poder mostrou suas garras de fera cruel.

Não gosto de escrever impessoalmente sobre literatura, queria poder falar dela com mais autonomia, fazendo minhas próprias leituras e descobrindo as outras bem depois. Impossível eu ler exatamente igual a algum teórico sobre uma obra, só se fossemos a mesma pessoa. Não sei por que as referências fazem-se tão importantes para elaborações de teses, apóio a idéia de citarmos num trabalho acadêmico apenas os teóricos que foram lidos, havendo citação de um ou outro se for necessário, pois quem sabe escrever de verdade não evoca o tempo todo idéias alheias, não as repete, mas as transforma em novidade boa, gostosa, preciosa. A teoria explica a literatura, não como a matemática aos números, esta resulta em exatidão de cálculos, aquela na captação da subjetividade de um sujeito, resulta em outro texto (NOVO), em possibilidades interpretativas, se o leitor – critico não se posiciona independente e põe-se a escrever com outros trezentos livros abertos para que dali surja a sua idéia, sua escrita não será livre e muitas vezes se tornará mecânica, para mim, escritores técnicos demais não são escritores, mas escreventes (repetidores de formas e conteúdos), como diz Roland Barthes. Teorias da literatura não deveriam ser ensinadas na escola, mas bem antes delas, os alunos deveriam poder se fartar de tanto ler, ler bobagens ou seriedades, aprender sintaxe lendo, gramática caipira, nordestina, clandestina, normativa.

A menina dos olhos meus é a poesia, Deus, como sou fraca diante dela. Lê-la ou escrevê-la é como levar sustos dos mais violentos, dói profundamente a alma, faço-me mais gente, mais humana... Ela é o avesso do homem, onde ninguém toca, onde todas as dores gemem silenciosas, faz-se o poeta seu ouvidor, maldito fofoqueiro a revelar segredos: ventos e moinhos da humanidade. Sou poeta que chora diante do papel, a cada poema escrito dou-me a violência de um tapa, deixo ali a marca das minhas lagrimas, fotografia de minha alma.
Volto ao tempo. Sou este raio de luz a escurecer o papel com as tintas do infinito. Sopro meu vento, sou o meu tempo, escrevo, escrevo para olhar-me nua, dar-me qual uma prostituta ilegal que ama a todos os homens, ser inexplicável. E os escritores são como “Genis”, amantes da vida e da morte, oferecem suas sutilezas ou brutalidades e não se protegem das pedras dos tolos surdos enraizados na escuridão da caverna... Somos uma meia luz que incomoda, as pedras não nos machuca, pelo contrario, a falta de suas miras é que nos assusta

A escrita e o homem
Daline Rodrigues Gerber, 2006.


A escrita é um grande artifício de preservação das memórias cientificas, históricas e culturais de um país. A partir da invenção do registro escrito, as teorias e projetos inacabados por antepassados puderam e podem ser explorados, modificados e transformados por homens contemporâneos.


Na literatura e na filosofia a escrita é uma forma que o homem encontra para expressar seus conflitos interiores ou os conflitos da própria sociedade em que vive. Além do caráter, por vezes, artístico de uma obra literária, ela pode abranger diversas áreas de estudos humanos, conscientizando, informando e denunciando, sub-repticiamente, erros sociais e mesmo culturais.


A linguagem escrita não apenas proporcionou uma divisão geográfica através de tratados e documentos escritos, como também proporciona a paises distantes conhecerem-se através de textos e livros traduzidos. Neste sentido, se Machado de Assis, que é um escritor brasileiro, pode ser conhecido nos Estados Unidos por meio de tradução, escritores estrangeiros também podem ser estudados por brasileiros, a exemplo de Roland Barthes, Platão, entre outros.


Em relação à Justiça a escrita tornou-se imprescindível para que as leis e documentos pudessem ser registrados, sem ela a ordem, talvez, seguisse ainda como a lei de Talião “olho por olho, dente por dente”, lei esta muito duvidosa, como a nossa “Justiça cega” que enxerga até muito bem, mas finge não ver as falcatruas dos poderosos, talvez por ser ela a grande personificação do poder.


Além de todos os benefícios citados trazidos à humanidade pela escrita, ela é, ainda, uma forma eficaz de cada ser humano aprimorar, desenvolver e ampliar seus pensamentos, pois através deste exercício, o individuo reflete, transforma suas idéias amorfas em algo concreto ainda que não palpável. Dá-se, portanto, um processo de consciência de si e do pensamento. Se cada homem pudesse e quisesse, além de ler, desenvolver sua linguagem escrita é provável que a própria consciência social e política de cada um estaria comprometida a expandir-se.


“O homem tem na escrita a oportunidade de realizar seu pensamento”

Ao escrever, um individuo organiza aquilo que já existe em sua mente só que confuso. Essa organização faz com que ele, além de dar-se conta do que lhe habitava por ver-se fora do tumultuo de seu cérebro, ainda possibilita o aprimoramento e desenvolvimento destes pensamentos primários. Neste sentindo, percebemos que uma manifestação escrita mostra-se muito mais sofisticada que uma manifestação ocorrida através da fala, esta é dinâmica e fugidia, aquela deve ser mais preocupada com a lógica e a clareza, por isso, ao exercitá-la estamos, forçosamente, tendo que refletir, pensar e repensar sobre o assunto exposto para que possamos obter um resultado final satisfatório: o texto: a realização do pensamento.


“A invenção da escrita alfabética é considerada uma “descoberta”, pois com ela o homem passa a operar conscientemente com seu conhecimento da organização fonológica de sua língua.”

A invenção da escrita alfabética, como afirma Sven Ohman, é considerada uma “descoberta” por se tratar de um conhecimento humano que surgiu através das tentativas de representação da realidade. Houve, portanto, um longo processo de interação do homem com a realidade e com os artifícios que encontrava para representá-la, até que percebesse (“descobrisse”) que sua língua podia ser representada de forma fonológica. A partir desta descoberta, a representação da língua através da escrita passou a ser tão abstrata quanto a própria linguagem oral, levando o homem a registrar informações e pensamentos dos mais variados e complexos.



HISTÓRIA DO LIVRO “IRACEMA”
DE JOSÉ DE ALENCAR
Daline Rodrigues Gerber, 2007.

Iracema, índia tabajara, está à beira do rio, quando encontra Martim, guerreiro branco amigo dos nativos da tribo pitiguara, se assusta e o atinge com uma flecha. Logo se enche de culpa, se arrepende e tenta ajudar o estrangeiro. Leva-o até sua terra. O pai de Iracema é o Pajé Araquém que recebe Martim com cordialidade, devoto de Tupã, diz que foi Tupã quem trouxe o europeu à tribo.

Martim fica encantado com Iracema. Recebe todos os cuidados e um presente: mulheres tabajaras para que passe bem sua noite. Mas quem ele quer é Iracema e pergunta a ela se ela ficará para passar a noite com ele e recusa a companhia das outras índias. Iracema também tem interesse em Martim, mas não pode ter envolvimento com ele.

Iracema é filha de Pajé e guarda o segredo da jurema, receita de um licor alucinógeno para rituais dos guerreiros de sua tribo. Sendo guardiã do segredo desse liquido, tem de permanecer virgem para manter a tradição. Por esse motivo, não deve se render a Martim.

O fato é que o interesse de Martim por ela foi, na alma da tabajara, correspondido rapidamente, o que a faz querer segui-lo e protegê-lo (proteção cheia de ternura).

Não deixando Matim ir embora da sua tribo sem um guia, pede que ele fique e espere seu irmão Caubi para que ele o acompanhe pela mata. Martim aceita. Na noite em que Martim passa em terra tabajara, Iracema oferta a ele o liquido sagrado. Ele delira, e, então, faz sexo com Iracema. No dia seguinte, de nada se lembra, já que o liquido tira do ser que a bebe toda a consciência.

Irapuã, chefe dos tabajara, mostra-se irado pela presença de Martim naquela terra, sente ciúmes de Iracema e o jura de morte.

Antes de saber que Iracema compartilhou o segredo da jurema com Martim e que não é mais virgem, Caubi, o irmão da índia tabajara, ajuda o cristão branco a se emaranhar na floresta a caminho das terras dos pitiguaras, inimigos dos tabajaras.

Com a renúncia de Iracema ao povo tabajara em nome de seu amor e da vergonha pelo segredo quebrado, Caubi voltou-se para o lado dos tabajaras contra os pitiguaras e contra Martim.

Martim, encontrando com seu amigo Poti, juntou-se aos pitiguaras e envolveu-se em várias batalhas contra o povo de Iracema.

Iracema, após contar que já havia tido enlace amoroso com o estrangeiro, fez-se oficialmente sua esposa, engravidando em seguida.

Muito triste ficava Iracema pelas mortes dos seus irmãos de tribo nas batalhas que seu marido travava. Os pitiguaras eram sempre vencedores. Por um lado, ficava feliz por estar perto de Martim, por outro, ficava muito infeliz com a distância de seu povo.

Martim, antes de habitar em terras americanas, habitava em Portugal (provavelmente). Deixara família e uma noiva. Sentia saudades muitas vezes, e nelas esquecia-se de Iracema, deixava-a só, passava tempos olhando o mar ou guerreando.

Num dia desses de solidão, deixada sozinha tempos a fio por causa das batalhas vivenciadas por Martim, Iracema dá a luz a Moacir (filho de sua dor).

Um pouco antes de seu fim trágico, recebe a visita de seu irmão, Caubi, que a perdoa. Ele se vai e ela começa a sentir dores profundas. Faz mingau para alimentar a criança, tem a esperança de que Martim e Poti voltem logo. Corre para a mata, queda-se perto de onde fica o leito da cachorra de Martim, Japi. De seus seios, ao invés de leite, sai sangue. Ali, morre com o filho no colo.

Martim chega e encontra Iracema morta, a enterra ao pé de um coqueiro, perto de um rio.

“E foi assim que um dia veio a chamar-se Ceará o rio onde crescia o coqueiro, e os campos onde serpeja o rio.”

Martim voltou a Portugal, tornando ao Ceará com guerreiros brancos e um padre para fundar um gueto de cristãos na nova terra. Poti foi o primeiro índio a ser catequizado, tão dócil que era.

Martim continuou a cuidar de seu filho Moacir. Um novo tempo chegava, novas e velhas batalhas...

“Tudo passa sobre a terra”.

Assim findou o romance Iracema.

Leitura e Escrita: um ponto de vista
Daline Rodrigues Gerber, 2006.

Antes de aprender a escrever nunca sabemos, de fato, a importância que este aprendizado trará a nossa vida. No meu caso, a leitura veio antes da escrita, o desejo de ler era bem maior: queria saber o que estava escrito nos livros, principalmente nas revistas em quadrinho que foram o começo de tudo para mim. Mas logo percebi que escrever era um meio de expor e demonstrar meus sentimentos, por isso comecei a escrever enumeras cartas para meus pais, para os professores que eu amava e escrevia também poemas para a natureza.

Hoje minha relação com a escrita é muito mais intima do que com a própria leitura. Não sei se isso se dá por uma resistência preconceituosa a alguns livros que sempre julgo desinteressantes ou por uma real dificuldade de encarar sem medo qualquer leitura, qualquer estilo ou tipo de texto, seja ele ficcional ou teórico. Se eu fosse dizer que gosto de ler qualquer coisa, estaria mentindo e não é de minha índole fazê-lo. Leio com satisfação poemas, contos e livros bem doidos, como Macunaíma. O começo das leituras de livros que não se enquadram ao meu gosto quase sempre são sacrificantes, desatentos, um horror para quem cursou Letras, mas com muito sacrifício termino a leitura sempre cheia de opiniões e enriquecida de saberes também. O prazer da leitura me vem bem depois do ato, vem na idéia de que eu sei aquilo, eu domino o conteúdo ou do próprio reconhecimento de que o enredo era bom, de que eu deveria reler para prestar mais atenção. O grande tédio da leitura está na solidão deste trajeto, ali não há diálogo nem retorno do outro, as vozes não existem, existem apenas as imagens do leitor, a conversa consigo mesmo e a busca trabalhosa do entendimento, por isso as coisas se mostram mais vagarosas, ruminantes até. Ao ler estamos entre dois mundos: um que é acelerado, conta, informa uma série de coisas rapidamente pela linguagem oral e outro que requer tempo para ser decifrado, entendido e internalizado. Para uma pessoa altamente socializada, adaptada ao cotidiano acelerado, ao caos das informações caindo de pára-quedas em sua cabeça, é muito difícil olhar e se concentrar num livro sem querer participar dos barulhos que ocorrem a sua volta.

Estranho muito o distanciamento em que a leitura e a escrita se deram em minha vida, gostaria muito de descobrir porque é assim, por que motivo gosto mais de escrever do que ler. Quando escrevo, desejo que alguém leia, uma pessoa especifica ou não. Se me é tão importante o leitor, por que não consigo ser também uma boa leitora?

Gosto muito de escrever poesia, talvez pelo nível de sua complexidade, talvez por ela fingir que alcança sensações metafísicas ou pelo seu alto grau de liberdade, coisa que não acontece num texto informativo ou mesmo dissertativo que evitam contradições ao máximo. Num poema, a verdade ou a mentira é só do autor e ele a divide com quem quiser, o que menos interessa para quem faz e para quem lê uma poesia é a sua veracidade, o que fica em evidência é, principalmente, o reconhecimento das possibilidades.

De alguma maneira o ser humano sempre terá a ambição de se eternizar, se não for possível fisicamente, tentará que seja através de suas memórias. Eis que a escrita, para mim, faz-se hoje importante pelo seu grau de durabilidade, enquanto alguém me quiser ler, eu estarei viva.

Comparações interpretativas dos textos
“Diante da lei” e “A Metamorfose” de Kafka

Daline Rodrigues Gerber, 2004.


Em A metamorfose, no trecho onde Gregor diz em pensamento a si mesmo: “Antes de soar sete e quinze, tenho de ter deixado a cama por completo e sem falta. A demais, até lá já terá vindo alguém da firma para perguntar por mim, porque a firma é aberta antes da sete das sete horas”. Gregor era um homem preocupado com suas obrigações, nesse sentido podemos compará-lo com o personagem de Diante da lei, pois nos dois casos o homem está diante de regras pré-estabelecidas e tem de se posicionar de alguma forma frente a isto. Nos dois casos, o homem escolhe traçar um caminho que é comum a todos que seguem a mesma lei e regras.

No caso do personagem Gregor, podemos observar sua preocupação excessiva em não deixar de fazer o que está na conformidade do dia-a-dia. Mudar regras como a de acordar cedo, trabalhar, bater cartão, manter obediência ao patrão é sair do padrão, ir contra ao comum e isso Gregor não cogita, está acostumado a ser o homem padrão, automatizado, aquele que não se arrisca a olhar para o seu futuro e o da humanidade. Sem se dar conta, homens como Gregor, antes de serem o que são, passam por escolhas e traçam um caminho, ou seja, escolhem seus destinos. O camponês de Diante da lei passa por essa escolha, a escolha de traçar seu próprio destino ou de deixar a lei o traçar. Gregor e camponês, por submissão, acomodação continuam estáticos sem a reação de mudar nada.

Gregor é o bom filho, automatizado, acostumado com sua situação quase que desumana, sem tempo para sua individualidade, sem meta, sem alvo e não se sente incomodado com isto, pois passou por um processo anterior escolar e social que admite, estimula e aprova homens com esta característica, todo um sistema que vista sugar do homem sua energia. Assim como vimos em Matrix, as industrias, empresas grandiosas e poderosas são como máquinas esperando a próxima “pilha” formada pela escola, que é uma das instituições manipuladas e, de certa forma, idealizada pelo governo. A escola, infelizmente, é um meio de manter controle indiretamente sobre o imaginário coletivo e formar mentes e condutas padronizadas.

O camponês de Diante da lei também funciona como uma espécie de pilha alimentando uma lei instituída e estabelecida por pessoas acima dele, ou seja, o poder. O camponês não avança nem interage com a lei, apenas a espera. Ele não tem consciência do que pode ser feito e “sonha” com a possibilidade de entrar nesta lei, com a finalidade de que ela aja em sua vida de maneira positiva. Mas o que ele não sabe é que a lei já possui sua lista de beneficiados, por isso ela o exclui. Se ele quisesse uma lei que o beneficiasse, ele teria que construí-la, arriscar-se pela sua lei e justiça. Depois que o camponês torna-se uma “pilha” velha e quase sem energia, além de não poder mais lutar por si, também não pode servir para o sistema de lei já constituído, sua energia e seu tempo já foram todos sugados. E, como por deboche, o guarda, aquele que aparece no conto como o menor poder do sistema, diz ao velho camponês que vá embora, pois agora está inutilizado, não serve para lei e o joga no “lixo” como uma pilha imprestável.

Toda essa temática de “Diante da lei” pode ser associada com “A metamorfose”. Lembremos o final de “A metamorfose”: Gregor não serve mais para alimentar o sistema, virou um inseto cheio de impossibilidades, não produz como antes, não tem capital para ajudar a alimentar a sobrevivência dos pais, sua família vê-se capaz de sobreviver sem ele, ou seja, está morto para a sociedade e para a família, só falta parar de respirar que é o que faz no final do livro. É uma nova “pilha” jogada no lixo.

quinta-feira, julho 09, 2009

En busca de la tierra del Zorro

Daline Rodrigues Gerber, Julio, 2009.


Actualmente, las personas del mundo todo quedan preocupadas con su propia sobrevivencia, carrera, éxito y bienestar. Muchas veces los jóvenes, sin ningún sentido de colectividad, tienen mucha falta de respeto a los más viejos.


La ideología capitalista ejerce gran influencia en la vida de la gente y muchos fenómenos sociales están directamente relacionados a ella: la inestabilidad en el trabajo, la competitividad, el desempleo, la poca valoración de los seres vivos, la supervaloración de productos y el deseo incontrolado de tenerlos hace con que, de alguna forma, las personas queden enfermas, con mucho miedo, mucha ansiedad, mucho desanimo y con poca buena voluntad a respeto de los sentimientos del próximo.


Antiguamente, en Brasil, el sistema social era muy diferente. Aunque siempre ocurrieron episodios injustos, la noción de derechos y deberes era más fuerte, la educación era dura dentro y fuera de la escuela, la familia era unida y las personas eran más alegres y se ayudaban unas as otras. Hoy no es más así, todo se invirtió.


La película “El hijo de la novia” trata de la sociedad contemporánea, con personajes frustrados con su vida, principalmente Rafael, el propietario del restaurante. El sueño de infancia de Rafael era ser un héroe como el Zorro, pero empezó a trabajar muy cedo y su vida, a partir de ahí, quedó estresada y vacía, por ello era un hombre muy amargo y insensible, y también, por ello, tuve muy temprano un infarto.


Muchas personas viven como Rafael en Brasil e en el mundo todo, pero pocas personas tienen una segunda oportunidad para empezar una nueva historia, porque el tiempo no vuelve, tenemos una única vida. Creo que las personas deben amar más, dedicarse a los sentimientos sinceros y a los sueños más puros que viven en el alma. La vida es muy corta, es poca, muy poca, cuando se ve no hay más nada.

quarta-feira, julho 08, 2009

UMA CRÔNICA ENTRE OUTRAS
Daline Rodrigues Gerber, 2007

Uma espécie de espanto e alegria surgiu em mim quando descobri na biblioteca da faculdade um livro de crônicas feito por alunos da UFF no ano de mil novecentos e sessenta e nove. Tantas recordações deveriam estar expressas naquele pequeno objeto, que eu, certamente, encontraria ali ligações de acontecimentos passados com acontecimentos presentes, além de matar curiosidades minhas acerca da história da universidade em que estudo. Obviamente aquelas pessoas que registraram suas memórias dividem comigo uma qualquer coisa invisível que se arrasta no tempo. Ali mesmo na biblioteca, pus-me a ler as crônicas.

Os alunos descreviam o dia-a-dia da UFF, o aspecto físico de seus campi, compartilhavam alegrias e tristezas da vida acadêmica, as amizades, os professores, as ambições futuras, etc. O cotidiano acadêmico, embora com diferenças, não me pareceu distinguir-se largamente do de hoje. No entanto, não pude deixar de notar a boa fluência, até certa eloqüência, na habilidade lingüística com que produziram seus textos, qualidades raras nas redações dos estudantes de hoje, explicável, é claro, pelo processo massificador e falso-democrático da Educação brasileira. Mas isso não vem ao caso agora.

O fato é que, depois de ter lido crônicas com conteúdos tão semelhantes ao atual cenário em que me encontro hoje, me deparei com o último e mais interessante dos textos. O aluno João Barata Ribeiro foi quem o escreveu. Nele temos verdadeiramente um fato histórico que muitos desconhecem, acontecido aqui mesmo, na Universidade Federal Fluminense, intitulado pelo autor como “A revolução da palavra”.

Conta a crônica que houve na UFF uma professora de Filosofia, Sociologia e Teoria da Literatura que era considerada uma das figuras mais sábias do país nas décadas de cinqüenta e sessenta. Essa professora, cujo nome era Joana Tabará, escrevera mais de cem livros de caráter filosófico, que tinham como princípio ajudar cidadãos comuns a entenderem e conviverem bem com a realidade. Seu trabalho era bastante reconhecido e aplaudido pela elite, que a apoiava e a patrocinava. Os alunos lhe eram gratos por suas tão compreensíveis e acessíveis aulas, plenas de respostas claras, ativas e eficientes.

Certo dia, numa de suas aulas, Tabará pedira aos alunos que pegassem seu livro “O destino é uma escolha” e o abrissem na página trinta e sete. Começou a ler e comentar cada parágrafo lido:
– ... Vejam, então, que Amanda está vestindo uma blusa azul hoje, porque escolheu usar uma blusa azul e não uma blusa rosa. Da mesma maneira que uma mulher é faxineira, porque escolheu ser faxineira, pois não quis freqüentar a escola...

Nesse momento da aula – conta a história – o telhado da sala caiu sobre a cabeça da culta senhora e a fez ficar, além de muito ferida, inconsciente. Levaram-na então ao hospital e lá permaneceu em coma durante dois anos.

Quando finalmente Joana Tabará retornou ao magistério, deparou-se novamente com a turma que presenciou seu acidente. Ao mesmo tempo em que eles a recebiam com alegria e palmas, ela os olhou com seriedade e frieza:

– Posso começar ou terei que esperar vocês soltarem fogos lá fora?

A turma silenciou temerosa e aflita. Ela continuou:

– Pois bem. Se alguém tem algum livro escrito por uma tal de Joana Tabará, joguem-no fora agora.

Ninguém entendeu nada:

– Joana Tabará?... Mas a senhora é Joana Tabará!

– Não sou Joana Tabará. Hoje sou Joana Morus, descendente de Thomas Morus que escreveu o livro “Utopia” e vocês são a minha Ilha de Utopia. Responda, apontou para uma menina, quem é você?

– Sou Olívia...

A professora olhou com reprovação.

– Sou... hum... uma ilha?

– Pois bem. Vocês são o lugar mais perfeito do mundo: uma ilha deserta. Digamos que, dentro dessa ilha, podemos construir um lugar perfeito. Descrevam como seria esse lugar sem guerras, sem imperfeições. E a aula prosseguia...

No outro dia...

– Hoje sou Joana Marx, amiga íntima de Karl Marx e Friedrich Engels, escritores do livro “A Ideologia Alemã” . Sou uma milionária e tenho muitas empresas. Vocês são meus trabalhadores assalariados. Vendo giz, este é meu produto. É preciso muita cal para fazer giz, a cal é uma matéria prima barata, vocês é que são caros para mim. Vocês trabalham oito horas por dia e quem calcula o salário de vocês sou eu. Para que eu continue rica, se eu quiser, posso pagar a vocês apenas quatro horas de trabalho. Meu maior lucro está exatamente no trabalho que não pago a vocês... Eu tenho o capital, vocês não têm escolha... ou vocês têm escolha?

No dia seguinte...

– Hoje sou Joana Freud. Analisemos a idéia de que todas as crianças desde cedo têm impulso sexual... Vamos ler trechos de “Édipo Rei” ... Vocês não acham que Édipo não teve a oportunidade de ter complexo de Édipo?

No dia posterior...

– Hoje sou Joana D’Arc e vim salvar a França, minha nação... Mas que é nação?

– Hoje sou Joana Grécia Antiga, discípula de Sócrates e Platão e estamos todos numa caverna escura...

João Barata Ribeiro conta que foi um dos alunos que presenciaram a mudança constante da professora Tabará, dia após dia, através da palavra. Cada dia ela era uma e os alunos, outros. Cada dia aprender era aprender de verdade as mentiras e as verdades. Na última aula, conta o cronista, todos os alunos compareceram em peso para as despedidas. A professora abriu a porta sorridente e disse:

– Queridos alunos, vocês também foram meus professores. E eu espero ter feito companhia nas diferentes veredas por onde caminhamos juntos. Hoje, meu nome é Joana Tabará, e todos os outros nomes que já tive até aqui moram em mim.

PS: Por algum motivo que desconheço, o livro de crônicas sumiu da biblioteca. Tive, então, a idéia de registrar esse belíssimo relato, cujo original, me contam, já não tem similar.
Abraços, Giudice Rabata.

terça-feira, julho 07, 2009

O que se tem feito
(Daline Rodrigues Gerber)

Em tempo
Verei a noite passar
Mergulharei em sono profundo
Sonharei mil coisas imaginando serem as imagens sonhadas
Realidades de outras dimensões.

Risos silenciosos enquanto viajo...

Sorrateiramente, madrugada, suores e tremores surgem
Quando os vultos e as vozes
Tentam agredir a mulher invisível que abre os olhos e agora foge.

Amanheceu em tempo

Vou...

As mãos se mexem primeiro,
Os pés, em seguida, experimentam tão estranha sensação de vida.
Espelho...
Real e abstrata,
Eu existo.
Para quê?
É bom à beça!
É péssimo...
Sinto dores às vezes...
Dores no corpo, dores...
Sabe? Dores de ser ou de não ser.
Não tô pronta para ser bonita.
Não tô pronta para ser feia.
Não tô pronta pra nada disso.
Cadê a chave? Cadê a grade?
Presa numa gaiola enorme: mundo.
Não tô pronta pra isso tudo... Deus.
É esse o nome? Deus? Jeová? Mestre? Amor?
Cara, amor... excelente nome para intitular um magnífico inimaginável.
Deus.

Em tempo...
Escreverei uma carta medíocre,
Escreverei uma linha frágil, fácil de desprezo
E difícil de arquivamento...
É que tenho tido medo.

Falarei...

De perto, para não me sentir tão só.
Sussurrarei...
De perto direi, não direi, abafadamente,
Sufocadamente, sem palavras...
Gritarei muda até minha amígdala inchar e estourar.

Em tempo...
Silêncio.
A roupa no varal,
A roupa no corpo...
Boca mordaça...
Mordaça...
Morda!
Defesa-ataque...
O silêncio medroso dá um pulo feroz
E grita ensurdecendo...
Grita e morde se mordendo...

Tudo isso em tempo...
De assistir, agir e reagir.
É o que se faz...
Em tempo...
É o que se tem feito.

Finalidade
03/06/2009
(Daline Rodrigues Gerber)

Lá no final desses olhos
Haverá fim?
Entre paredes,
Entre nós...
Haverá começo?
Os poetas, as novas metáforas
O personagem sincero e mentiroso
Que inventei...

Você me inventou.

Sou alegre? Sou triste?
Sou calma? Avassaladora?
Você não sabe,
Eu não sei...
Quer me ver?
Quer me ver?
Rolo pelo chão, levanto, pulo,
Encosto meu corpo na parede,
Deixo que toquem minha face
Meu corpo, meu sexo.
Não há como me virar do avesso,
Não consigo tocar no fio invisível
Que ordena que eu diga:
Eu te amo...
Mas não digo...
Eu te amo...
Mas eu não sei...

O que é o amor?
É esse querer bem?
Esse que passou ventando em minhas pernas...
Como um foguete, entrou, saiu, ficou, riu
E lá está: fora de mim.
E aqui está: dentro de mim.

O que sinto foge,
Muda, cresce, diminui, transborda, seca.
Você me rega com um sorriso
E tenho flores que às vezes não te dou...
O que sinto é só meu.
Quando mesmo devo dar, ofertar, viver o amor?
Quando?

Quando é amor?

Eu aceito que o amor mude.
Você aceita?
Você aceita me beijar hoje e me querer hoje
E amanhã e depois
Até que o encanto se acabe?
Você aceita ter me visto nua e eu a você
E depois sermos amigos que reinventaram o amor?
Tenho medo de perder amigos.
Não namoro com inimigos.
Namoro... e depois amigos?
Mas que merda eu te querer quando você não me quer mais
Mas que merda você me querer quando eu não te quero mais...
Noventa e nove por cento de chances de os sentimentos mudarem com o tempo.
Não tenhamos medo do começo,
Tudo tem um fim.

E recomeça.

(Im) previsão
Daline Rodrigues Gerber, Agosto de 2008.

Corre tempo! Corre! Voa rápido e me leve, folha leve, como um flash para que eu veja, sinta, passeie pelo futuro, mas tão veloz retorne a medo de me deixar por lá sem rumo, sem pátria, vagando muda com pensamentos arcaicos e saudades do antes. Diz o calendário: sexta-feira, 29 de agosto de 2008. Penúltimo dia para pensar no que escrever sobre um planeta que desconheço, a Terra que será ou não, daqui a quarenta e dois anos: 2050. O tempo é o único imutável e constante que sei, não mudará, continuará correndo indiferente a meus pedidos tolos, imperativos. No entanto, a curiosidade de hoje me impõe esforço taurino, forte e persistente. Ajuda-me tempo, meu tempo interno, meus olhos futuros acesos no escuro, ajuda-me!
Um fecho de luz se expande e vejo: estamos velhos, minha geração. É difícil aceitar essa realidade, por isso há algo muito embaçado nessa visão. Esses seres frágeis, modificados, resistindo a dores inexplicáveis e recorrentes, nós. Rejeitamos essa face em que a vida, cabelos brancos, parece diluir de tão gasta. A morte sem capas ou disfarces senta-se ao lado e ri misteriosa, não parece ser um ponto final, cala-se reticente. Nossos pais mortos, nossos filhos já na faculdade, os netos com a mesma inocência que tínhamos: "parece que foi ontem".
O gado no campo, no campo-cidade, rumina no pasto alheio e sem desconfiar que sua vida é prioridade. Outros animais foram banidos por ganância e crueldade, ocupam algumas páginas da Internet para saciar curiosidades: "Que interessante, estranho, medonho!!!" eu penso o mesmo, às vezes, sobre a humanidade.

A retina se turva e nega destruições irreversíveis por crença e investimento neste mundo de agora. O lixo no chão, as árvores cortadas, o excesso despreocupado são movimentos que desprezam as ações e os seus efeitos. E eu me nego a ver um Mundo feio com crianças tristes dizendo que a culpa desesperada é nossa, de um corpo chamado homem, inteligência paradoxal, predador do mesmo amor que engendra, das mesmas práticas, cujos objetivos são respeito à vida e ao semelhante.
As ruas, nossas indústrias? Reservo algum medo do amanhã.
Reza, ora, sonha essa criança que me habita. Quero abraçar aquele nosso amigo, ensinar algo de bom ao vizinho, a mãe que está perto, ao sobrinho rebelde, a gente que caminha e caminha e caminha sem se perguntar "para onde?". Nós marchamos: Josés, Marias, pedreiros ou presidentes. Todos somos pais de um futuro que será, ou não.
Mas o futuro será. Nossas crianças sorriem, acenando como quem diz "Levanta!". Tolice rejeitar esse afeto. Inútil apenas ser culto e falar bonito. É preciso sorrir, tocar, ser quente, amigo, inimigo, gente. É preciso olhar para o céu e ver pássaros e estrelas, sentir a chuva bater na pele, olhar nos olhos de um animal ferido, respirar e cuidar deste ar que adentra no pulmão, esta água que circula nas veias sangüíneas. É preciso delicadeza, gentileza, carinho no sexo, na vida. Quando acompanhadas de respeito, as ações e os sentimentos mais incomuns tendem a ser, no mínimo, respeitados. E assim, meu coração, que de respeito e amizade se toma, crê que o homem de hoje levantará e fará de 2050 algo bem melhor do que, confusa, previ até aqui.


A Academia fede!!!
(Daline Rodrigues Gerber)

A Academia.
Gosto de praticar.
Meus braços ressequidos.
Seguro a caneta.
Digito mais uma lauda.
Corrijo erros absurdos...
Absurdos, absurdos, absurdos...
Uma palestra que lembre de mortos,
Uma conferência para mortos.
O palco é meu, a mesa, o nome...
Rá-rá-rá!!!
Nunca urinei, nem defequei,
Nunca entrou carne no meu dente...
Nunca peidei ou arrotei.
Rá-rá-rá!!!
Conheço as pessoas mais inteligentes,
escrevi inumeros textos,
estou no topo,
top, top, top...
Não há merda para entupir meu vaso.
Ponha-se no seu lugar!
Aquele: um demente;
Aquela: é gente?
Talvez eu é que seja Deus.
Deus entre os homens?!!!
Que crueldade comigo mesmo,
Que submissão a mim mesmo!!!
Sou top, top, top.
Convoco a segurança nacional
para proteger Deus!
Falo apenas utilidades públicas,
sem mim, o universo não existiria...

cof, cof, cof...

Estou sufocando, estupefato,

cof, cof, cof...

Que cheiro é esse?
vômito, plack, escarro...
Quanto liquido ao mesmo tempo!!!
É caganeira, ploft, ploft, plá...
vômito, vômito, coco!!!
Nunca vi tanto liquido!!!
Nunca senti tanto fedor!!!
Estou morrendo sobre mim mesmo!
Esgoto, baratas, vermes, carne necrosada:
como fede a Academia!
Agora estorou o estômago da Academia,
Pobrezinha!!!
Estava guardando tanta podridão e se achava tão limpinha,
Pobrezinha!!!
Como eu tenho pena!
Como os favelados, os desabrigados, os ludibriados lamentam!

Salvem-me, salvem-me, salvem-me!!!

Tão idiota! Até para pedir socorro, a Academia utiliza a norma culta...

Nóis num intendi naum,
Nóis sofreu mutação
de tantu cumê esses grudes expirimentais...
Nóis num sabi mais u qui é sofrê...
Nóis num sabi mais u qui é tê compaixão...
Quem será que insinô issu pra nóis?

Poema mais ou menos didático sobre dimensão
(Daline Rodrigues Gerber)

Três dimensões: x (1D), y (2D), z (3D).
Não se calcula x.
O trabalho matemático começa com o cálculo de x e y:
Largura e comprimento.
A dimensão z é o "ao redor" do objeto calculado.
Meu corpo está em 3D:
Não sou composta apenas pelo meu perfil direito,
Tenho frente, costas, lados, altura...
Meus olhos são meio burros:
Vêem tudo em 2D:
Retrato plano da realidade,
O que já faz da realidade um pouco menos
Real.

Existe a dimensão f(x, y, z...):
Tentativa de alcance do invisível:
Energia, gravidade, variáveis, variáveis.

Sei saber o que dizem que sabem,
Mas não sei calcular.
Fim.

Quem é você? Pensa na pergunta e não responda.

Você é bem humorada e mal humorada, ama e desama, você fala, sussurra, geme, grita e, num outro momento, silencia, você quer e não quer, há momentos em que adora ouvir música e outros que não suporta... Você sente atração por um tipo masculino atlético e, de repente, se apaixona por um magrelo ou gordinho que pelos olhos do senso comum é feio. Você é feliz, triste, agitada, sossegada, instável, rotineira, companheira, competitiva, amiga, inimiga...

Você é muito contraditória!!!

A sua volta tantos mais são incoerentes... há mesmo que se ter coerência? Há uma definição perfeita que traduza quem é você? Eu não saberia dizer quem são todos os meus amigos, não saberia dizer quem sou, qual minha essência imutável, inflexível, inquebrável... Eu sou com o outro, o outro atribui a mim características com lentes que convém a ele enxergar. Muitas vezes eu me enxergo com uma lente emprestada pela cultura.

Não é uma preocupação minha saber se você é alguma coisa. Para mim o que importa: Você é. Você é. Você é. Eu sou.

O verbo ser não seleciona um agente nem paciente. O individuo, ao nascer, clama pelo verbo ser e logo lhe dão um nome. Mas o nome é algo muito reduzido, assim como os inúmeros adjetivos dicionarizados – ou não – que tentam definir as coisas do mundo. O ser vivo é o tema, o tópico dentro da sentença. Não há análise sintática que alcance tamanha filosofia do que é simplesmente ser. É fenômeno da natureza, como frases: Chove / Anoiteceu /Trovejou. Maria é. São orações que traduzem fenômenos em certa medida inexplicáveis.

José
(Carlos Drummond de Andrade)
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

No palco da vida, o exercício do abraço
(Daline Rodrigues Gerber)

Vive-se
Vive-se todos os dias
Vive-se e fala-se
Vive-se e fala-se e cala-se
Cala-se e morre-se
Morre-se mas caminha-se

A ponte do desejo
A ponte é do desejo
A ponte é a do desejo de vida
E a ponte e a vida é o desejo de alcançar
O desejo de alcançar
O desejo de alcançar o riso e a lágrima
O desejo de alcançar um outro igual
Um outro igual!

Um outro igual para olhar
Para olhar e tocar
Para tocar e perder
Perder e chorar
Perder e querer que não
E querer que nunca
E querer que não nunca o outro igual se vá
Porque o outro igual é o outro eu
Mas lá se vai o outro eu...

Que sensação estranha...
Meu corpo todo esticado
Meus braços estendidos
Pedindo e implorando
Que a outra parte de mim se cole
Volte, volte, volte
Como se tivesse mesmo sido germinado comigo
Uma mesma mãe, uma mesma placenta,
Uma mesma gestação
Volte!
A humilhação mais sincera
Volte meu irmão!

Ele ouviu e olhou
Ele ouviu
Ele olhou
O coração suado de tanto gritar o que ninguém escutou
Mas ele escutou
Escutou e parou

Pausa para o olhar

O olhar e o sorriso finalmente oferecidos
A compaixão
A com-paixão
Ele também sofreu e eu não entendi
Ele também pediu e eu não ouvi
Mas agora eu ouvi
Agora eu entendi
Estávamos mudos
Mudos e submersos no medo
Estávamos mudos, gritávamos mudos

Eu o ouvi e olhei
Eu ouvi
Eu olhei
Uma vibração invisível nos puxava
Uma energia, uma luz colorida
Meus pêlos adormecidos acordaram
Meus pêlos, meus braços, meu suor
Eu e o outro eu
O outro semelhante, o outro eu, eu
Que confusão! Que fusão!

Nos queríamos cada vez mais
Cada vez mais o desejo nos impulsionava
Cada vez mais o medo nos prendia
O desejo
O medo
Medo de que?
Medo de não ter ouvido
Medo de não ter ouvido
Medo de não ter dito

Ele exita, eu exito
Os olhos se perdem
Baixam, cabisbaixos...
"Não desistam!"
Uma voz ordena
Uma voz externa?
Não
Interna é a voz
Interno é o desejo e a voz sabe
A voz da loucura
A voz do equilíbrio
"Não desista!"

Voltamos a nos olhar
Mas agora éramos bichos no cio
Éramos bichos de silêncio e choro
Éramos filhotes
Pequenas criaturas correndo ao encontro uma da outra
Tão pequenas criaturas
Tão pequenas...

Doeu a força do nosso encontro
Doeu a força do nosso desejo
E os corpos pequenos e iguais
Machucaram um ao outro
Estávamos a 100km por hora...
Duas máquinas
Duas maquinas humanas
Que agora descansam nos braços uma da outra

Obrigada pelo abraço
Obrigada
O abraço cansado no palco da vida
No palco cansado da vida o abraço
Quando eu estava caindo no espaço
Quando eu estava caindo o abraço
Eu não sabia que estava caindo
Ele me segurou
Ele me amparou
Ele não sabia que estava caindo
Eu o segurei
E o amparei
Obrigada


"Vá para casa bem"
Disse ele
E eu continuei a cair no espaço
A dançar no espaço
A rir no espaço
Muito mais acompanhada de mim.

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