sábado, fevereiro 02, 2008




O infinito e o começo

(Daline Rodrigues Gerber)

“Gozas com a minha cara?”
Bradou o homem eufórico...
Rolou na grama,
Correu gritando,
Sujou-se no barro,
Suor e lágrima...
Fugia?
Fingia?
Andou trêmulo,
Sentiu sede e fome...
Subiu dez morros,
Resistiu...
Não quis escutar respostas,
Queria acreditar que o mistério, aquele,
Valia mais do que uma verdade mal contada...
Cruzou o rio,
Rasgou o pé esquerdo nas pedras afiadas:
Um monstro,
Um homem,
Um menino...
Não precisou ler livro algum,
Não viu filmes,
Não freqüentou escola, igreja,
Não ouviu em comerciais,
Nunca lhe disseram com precisão...
“É isso mesmo?”
Essa era a pergunta...

Muito antes, ainda com aspecto civilizado,
Pôs-se a sonhar...
Devaneava brincando com borboletas pela manhã...
Coisas de criança, criancinha tola que ri para um simples aceno de mão,
Uma voz besta falando abestalhadamente qualquer ruído sem sentido.
Alguns anos passaram, e então jovem, sentiu medo de verdade,
Medo maduro por uma tal de morte...
E recuou diante de alguns daqueles sonhos, os esqueceu...
Precisava sobreviver, a vida: ela era tão dura,
Ainda mais agora: havia alguma consciência: isso doía.
Contente em ouvir uma música e algumas vozes que, de repente, descobriu:
Amava!!!
Aquilo, aquele sentimento, o esperou até que ele chegasse
E o alcançasse...
Era bom sentir.
Continuou a caminhar sorrindo: até um tempo aqueles devaneios o saciaram...
Mas, num bocejo inesperado, inocente, instintivo, descobriu:
Desejava!!!
Tornou-se faminto... queria ardentemente que os sonhos
Se tornassem reais.
E a realidade, oras, não importava o passar dos anos,
Era sempre um quase do que almejava...
Sentou-se cansado e pensativo no tronco da árvore que podara:
“Tu não és mais um menino, ah ah ah ah ah ah ah ah!!!”
Tropeçou numa pedra calma, drummondiniana, assustado
(de onde viria a voz grave e má?).
“Tu não és mais um jovem rapaz, ah ah ah ah ah ah ah ah ah!!!”
As nuvens, pouco a pouco, flutuavam para unir-se contra o sol.
“Todo trabalho, toda luta para alcançar teus desejos... e tu nem mesmo és um homem...”
A voz cruel apertou o riso, o escárnio...
Coube a ele mesmo olhar suas rugas, seus calos, sua solidão...
“O que tu és?”
Raios despertaram, em seguida trovões: a chuva a cair...
Ninguém respondeu, ele não soube, não quis, não esperou para saber...
Foi daí que começou a correr.



Maricá, 02 de Fevereiro de 2008 / 00:26

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