segunda-feira, abril 30, 2007



Os dois lados da moeda
(Por Daline Rodrigues Gerber)
Há dois tipos de imprensa – ou mídia –, como bem queiram: a que vende mentiras e a que luta pela verdade. Esta, como sabemos, é assustadoramente pisoteada perante a outra. Mas nada está perdido, se mantivermos os sentidos atentos.

A maior das mentiras da mídia, uma opinião minha, é a felicidade humana através do consumo, essa é uma mentira catastrófica posto que o fundo de verdade está mais na virtualidade do que na vida concreta. Vejamos. Há dois comerciais que gostaria de ressaltar:

1º – Coca-cola. Há um rapaz trabalhando numa cadeira típica de escritório com rodinhas, e começa a sentir sede, por esse motivo passa mal, começa a ficar verde e nascem em seu corpo espinhos. Os amigos, observando o que acontecia ao colega de trabalho, empurram às pressas a cadeira em que o rapaz está sentado para fora do escritório, correm, passam por prédios, atravessam sinais, até que avistam alguém vendendo coca-cola, compram a coca-cola, o rapaz bebe e volta ao normal, se sente bem e volta a ficar satisfeito, os amigos aproveitam e também bebem coca-cola, todos saem do lugar satisfeitos.

2º – Carro, Renault. A propaganda começa com um rapaz jovem e um cachorro em forma de desenho animado, o rapaz abre a porta de seu carro que é velho e não é Renault e chama o cachorro para entrar. O cachorro finge que vai entrar, se aproxima dele e urina. O rapaz, prontamente, abandona o carro, pois vê que aquele carro não tem a ver com seu estilo, e se dirige a uma concessionária Renault. Após atravessar a porta, tanto o rapaz quanto o cachorro deixam de ser desenhos animados para serem de “carne e osso”. O rapaz compra um Renault e o cachorro, dessa vez, entra satisfeito no carro.

Ora, o que está expresso nos dois anúncios, entre tantos com a mesma ideologia, é que o homem que consome é mais feliz e, pior, é mais real. Se pensarmos bem na relação do homem com o mundo e com a realidade, veremos que todos nós só passamos a ser reais através do outro, porque o ser só passa a se intitular de “eu” a partir do momento em que percebe que existem outros da mesma espécie, com a mesma complexidade. Certamente, os meios de comunicação social em geral não se preocupam em elaborar anúncios que valorizem as relações humanas, os homens que conversam, que escutam uns aos outros, que descobrem coisas novas ouvindo as experiências alheias, já que isto não seria rentável, lucrativo. Esse estreitamento entre homem e objeto, essa amizade – inexistente – entre os mesmos vem sendo absurdamente e cada vez mais cultivada pelos meios de comunicação.

Por que não beber água ou suco da fruta? Por que andar de carro e não de ônibus? Existem pessoas que não bebem água, somente refrigerante, algo altamente acido que reduz significativamente a quantidade de cálcio nos ossos. O excesso de carros de passeio na cidade aumenta todos os dias o nível de gás carbônico lançado na atmosfera, além de provocar engarrafamento nos centros de cidades.

As conseqüências do consumismo são várias, desde a destruição do ecossistema ocasionada pelas grandes industrias e pelos próprios consumidores, até a insatisfação individual e enfermidades emocionais presentes nos seres humanos: ou por serem sós no cultivo de bens matérias ou por não terem dinheiro para comprá-los. Há ainda os que sofrem por não terem amigos, pois muitas pessoas só se relacionam com outras do mesmo nível social, o que restringe a possibilidade de interação entre os homens.

Mas, como havia dito, há dois tipos de imprensa e acredito que, diante de tantas catástrofes que vêm acontecendo e que estão previstas a acontecer, a verdade dos fatos tem sido mais destacada. Pelo menos no que diz respeito ao jornalismo brasileiro, tenho que admitir que em diversos momentos sua existência tem sido de grande valia para alertar a população. Vemos reportagens sobre como cuidar do lixo, como tratar a água e até mesmo reportagens sobre a depressão humana, sobre respeito humano, valor humano. No entanto sabemos que para toda uma idéia de conscientização ser propagada é preciso muito mais do que os jornais, é preciso que as idéias dignas e valorosas ocupem todo o espaço dos meios de comunicação, estejam nas escolas, estejam nas casas, no trabalho, nas ruas.

Sem dúvida a imprensa pode nos ajudar, se quiser, a resgatarmos nossos valores, salvarmos o planeta Terra, etc. Mas não esqueçamos nunca de que toda grande mudança depende – e muito – de pequenos e valorosos gestos de nós mesmos diante do mundo, dos seres e dos humanos.




Façamos todos a nossa parte!

sábado, abril 21, 2007


Óbvio que quando escrevo... há nos escritos muitos conselhos para mim mesma que não sigo... Óbvio que nenhuma frase é isenta de ideologia... Óbvio que toda ideologia carrega poder... Óbvio que nem todo poder é construtivo... Óbvio que o maior trabalho é seu, leitor: de separar o joio do trigo... Óbvio que sou jovem e tenho muito o que aprender com os mais experientes...Óbvio que nem sempre sou óbvia, se alguém passa e descobre algo novo no que digo... Eu prefiro gente do que palavras e prefiro abraço carnal do que abraço virtual... Não me critique, guarde suas palavras destrutivas para você... Elogios, os prefiro... Não sou de baladas, gritos histéricos, mas adoro manifestações juvenis: sorrisos largos, otimismos, abraços... Gosto de trabalhar e suar, mas não gosto de abraçar suada, sinto calor, muito calor... mas adoro abraçar quando limpa e cheirosa. Óbvio que para tudo há exceções... Mas para o próximo gostaria de dar o melhor de mim... óbvio que erro, às vezes, sem intenção... Óbvio que nada é tão óbvio se o óbvio deixa de ser notado e passa a ser um ato automático, óbvio: algo que tinha que ser assim? Por quê? É óbvio?




Óbvio
(Daline Rodrigues Gerber)

Veja bem...
Hoje é quinta,
Amanhã é sexta...
Ver bem é
Notar que quinta é hoje
E está se transformando em sexta.
Veja, não há placas, lembretes, letreiros,
É preciso que você lembre,
Que você guarde
E que esvazie a mente...
Sim, pensar demais no futuro
Não é a solução.
Veja, sinta, hoje é quinta-feira
E nesse momento em que você passa os olhos
Sobre essas palavras,
Você pensa no que está sendo dito.
Mas não está sendo dito nada,
Pois foi você quem criou este texto.
Você parou na frente dele
E está de costas agora para o mundo.
Veja bem...
Os nós de sua camisa de força estão se desfazendo...
Você é louco?
Você encara, você foge,
Você ri, você chora...
Está sempre ausente, você...
Para estar presente você precisa...
Precisa de alguém?
Busca, busca, busca...
Nunca encontra,
Mas acha algo...
De repente, você ama esse algo
Profundamente...
Mas você perde...
Nunca se teve nada
E a quinta-feira passou a ser
Sexta-feira vazia...
Mas vazia muito cheia, a sexta,
A sexta ainda está viva.
Esquece.
Trabalha, ama seus filhos,
Porque filhos são bons e ingratos
E amam também, bem tortos.
Filhos não educam,
Eles querem deseducar...
Mas que os pais permaneçam educados!
Veja bem,
Anoitece...
Sábado, domingo, segunda...
Você dormiu mal,
Trabalhou pra burro,
Está enjoado de gente, está enjoado de si...
Sabe o que é isso? Sono...
Seu patrão não te deixa dormir...
Você não dorme, “que sono!!!”
E é terça-feira
E o amor a gente liga no automático
Para os parentes.
E outros tipos de amores?
Existem?
Esquece...
Toca pra frente.
Veja bem...
O telefone está tocando...
Não atenda! É o mínimo...
Era alguém...
“Pessoalmente a gente se fala”...
Chega o pessoalmente:
- Oi, como cê ta?
- Bem. E você?
- Vou indo e tô com pressa...
- Tá. Vai lá...
- Depois a gente se fala.
- Tá... Depois.
Depois, sempre depois e nunca mais.
Veja bem...
Quarta-feira:
Trabalho, dor de cabeça. Enjôo...
Sorriso forçado, esquecimentos vários:
Lembranças de muitas obrigações...
O sorriso de uma criança...
O sorriso de uma criança...
O sorriso de uma criança...
“Que ela sorria por mim,
Pois ela sorrirá por inteiro...”
Vai anoitecendo, quinta-feira,
Sexta-feira:
Nada mudou.
Você buscava alguma mudança?

segunda-feira, abril 02, 2007

AMIZADE!!!


Por inteiro – A uma grande amiga
(Daline Rodrigues Gerber)

A vida mergulhou no mar sem ar.
O barco soçobrou:
Afundou à procura de tesouro petrificado,
Jóias, metais,
Águas salgadas e geladas.
As horas existiam para o sucesso
E para o prazer da matéria robotizada:
O tempo era morrer sem tempo para a vida.
E a vida, para muitos,
Era uma utopia longínqua e impossível.

Milhares de barcos soçobraram:
Dizia-se que viver era procurar uma qualquer riqueza...
Os homens procuravam,
Nunca olhavam uns para os outros,
Afundavam-se buscando algo, cegos, nas águas, vorazmente...
No mar não há como ver as pessoas por inteiro:
As águas são escudos para a escuridão da transparência...

Mas estava lá eu na labuta, selvagem luta,
Me afogava... Compartilhava da ambição coletiva:
Conquistar o que convencionaram, antes de mim,
Como riqueza.
E eu nadava tão fundo e cada vez mais...
Enchia meus braços de pedras e jóias falsificadas,
Engolia água, sofria...
Acabava por deixar tudo para trás...
Até que um dia, vi uma mulher ousada
Gritar calada que o amor era um grande tesouro...
Muitos nem chegaram a perceber que ela dizia algo,
Outros não queriam escutar...
Um dia, e eu era ainda tão grosseira, suja, bruta,
Prestei atenção em suas palavras...
Estendeu as mãos, as agarrei,
Saí do mar...

Ela me mostrou como era por cima todo o trilhar da gente,
Para onde todos iam, o que ganhavam,
O que queriam...
Fora do mar pude ver também
Como é ser pelo avesso,
Como é ser feio e bonito,
Como é ser um pouco livre,
O que é a amizade e um amor puro...

Voltei muitas vezes ainda para as águas,
Não podia ignorar que meu povo todo estava ali,
Mas sempre que podia,
Retornava à amiga para vê-la e agradecer,
E ser com ela um ser humano por inteiro.

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