quinta-feira, dezembro 15, 2005
BALADA DO ASFALTO (Zeca Baleiro) / ESCRITO SOBRE ESCRITO (Daline Gerber)
Balada do Asfalto
Zeca Baleiro
Me dê um beijo, meu amor
Só eu vejo o mundo com meus olhos
Me dê um beijo, meu amor
Hoje eu tenho cem anos, hoje eu tenho cem anos
E meu coração bate como um pandeiro num samba dobrado
Vou pisando asfalto entre os automóveis
Mesmo o mais sozinho nunca fica só
Sempre haverá um idiota ao redor
Me dê um beijo, meu amor
Os sinais estão fechados
E trago no bolso uns trocados pro café
E o futuro se anuncia num out-door luminoso
Luminoso o futuro se anuncia num out-door
Há tantos reclames pelo céu
Quase tanto quanto nuvens
Um homem grave vende risos
A voz da noite se insinua
E aquele filme não sai da minha cabeça
E aquele filme não sai da minha cabeça
Rumino versos de um velho bardo
Parece fome o que eu sinto
Eu sinto como se eu seguisse os meus sapatos por aí
Eu sinto como se eu seguisse os meus sapatos por aí
Há alguns dias atrás vendi minha alma a um velho apache
Não é que eu ache que o mundo tenha salvação
Mas como diria o intrépido cowboy, fitando o bandido indócil
A alma é o segredo, a alma é o segredo
A alma é o segredo do negócio.
Insatisfação das pobres almas que compram e se vendem por um sonho barato, um sonho, uma insatisfação. A felicidade no out-door, o filme que emociona e que compramos, vendemos, divulgamos... Me dê um beijo, meu amor, para que eu possa esquecer que a minha alma insaciável é o segredo do negócio, do teu negócio, da mídia, do out-dour... O meu negócio é parecido com o da hipocrisia... Uso meu computador, fico triste, ando pela estrada e me descubro irremediavelmente dentro do que tanto repudio. Não é que eu ache que o mundo tenha salvação, mas é que agora eu descobri que a insatisfação que plantam em mim é a alma do negócio. Isso já faz uma diferença.
{ Rio de Janeiro,15 de dezembro de 2005. / Por D. Gerber }
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