domingo, dezembro 18, 2005

CHEIO DE VAZIO (Paulinho Moska) / UMA INTERPRETAÇÃO CHEIA DE VAZIO (Daline Gerber)















Cheio de Vazio

Letra e Música: Moska
O vazio é um meio de transporte
Pra quem tem coração cheio
Cheio de vazios que transbordam
Seus sentidos pelo meio
Meio que circunda o infinito
Tão bonito de tão feio
Feio que ensina e que termina
Começando outro passeio

E lá do outro lado do céu
Alguém derrama num papel
Novos poemas de amor

Amor é o nome que se dá
Quando se percebe o olhar alheio
Alheio a tudo que não for
Aquilo que está dentro do teu seio
Porque seio é o alimento
E ao mesmo tempo a fonte para o desbloqueio
E desbloqueio é quando aquele tal vazio
Se transforma em amor que veio

Lá do outro lado do céu
Alguém derrama num papel
Novos poemas de amor

Do outro lado do céu
Alguém derrama num papel
Novos poemas de amor

O vazio é um meio de transporte
Pra quem tem coração cheio















Uma interpretação cheia de vazio

(por Daline R. Gerber)


O vazio de que Moska fala parece ter relação com a experiência do homem com tudo aquilo que lhe é desconhecido. Este vazio que há em todos os seres humanos procurará, sempre, ser preenchido por conhecimentos. É esta falta (vazio) de conhecimentos que impulsiona cada um de nós a uma busca, sendo que, por mais que esta encontre um preenchimento, ele será superficial e cairá, novamente, neste buraco, sempre incompleto feito de areia movediça. Assim, quando o homem encara de frente o vazio de seu ser, ele percebe que precisa aprender infinitamente, porque nada no mundo é estático, tudo muda com o tempo e o que se vê então se renova frente à paisagem de um novo amanhecer. “– Mas ontem amanheceu.” - Dirão todos. E o que a vida mostra é que o amanhecer de antes nunca será como os que começam a surgir. Por isso, Moska fala que o meio (que no meu modo de entender é o que há a se aprender) “termina começando outro passeio”.

No refrão, a letra aponta para um novo tema: o amor. O que consigo visualizar aqui é a junção do saber e dos sentimentos, pois dentre as tantas coisas que parecem, aos nossos olhos, ultrapassadas, velhas na história da humanidade, são estas sempre novas e podem ser apreendidas e compreendidas de maneiras diferentes em momentos diferentes. Isso se dá com o amor também. Este sentimento não é sempre tão grande, nem tão pequeno, ele é sempre o que não é, ele é mais do que é, ele é um vento forte ou uma brisa suave, enquanto existirmos, enquanto novas gerações surgirem, ele será encarado de um novo jeito. Por isso sempre haverá “Lá do outro lado do céu / Alguém que derrama no papel / Novos poemas de amor.”

“Amor é o nome que se dá / quando se percebe o olhar alheio / Alheio a tudo o que não for / Aquilo o que está dentro do seu seio.” Esta frase parece estar se referindo ao conceito que o senso comum atribui ao amor. Este amor que, para muitos, está na roupa, na aparência, no status social e em tudo o que está exterior, é, por este motivo, “alheio a tudo o que não for”, pois o que somos, de fato, não se parece em nada com esta casca grossa que nos envolve a face. Somos como o amor ou talvez sejamos ele: amorfos, inexatos.

Logo depois, “Cheio de vazio” nos explica que quando “desbloqueamos” nossos olhos diante da visão que temos do outro, conseguimos entender que o amor verdadeiro é interno, entranhado em nossas vísceras, na nossa essência. Ele surge de dentro para fora, como o nosso desejo de aprender, porque dentro de nós o vazio não é oco, mas cheio de vontade de descobrir o que já está dentro de si e que não se mostra, faz charme, finge que vai revelar-se, mas novamente se esconde. Quando experimentamos sugar este leite materno que faz do amor este ato bonito de dentro para fora, ele, finalmente, é sentido e não somente visualizado, pois se concretiza e se transforma “em amor que veio”.

{ Rio de Janeiro,18 de dezembro de 2005. / Por D. Gerber }

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