terça-feira, julho 07, 2009

(Im) previsão
Daline Rodrigues Gerber, Agosto de 2008.

Corre tempo! Corre! Voa rápido e me leve, folha leve, como um flash para que eu veja, sinta, passeie pelo futuro, mas tão veloz retorne a medo de me deixar por lá sem rumo, sem pátria, vagando muda com pensamentos arcaicos e saudades do antes. Diz o calendário: sexta-feira, 29 de agosto de 2008. Penúltimo dia para pensar no que escrever sobre um planeta que desconheço, a Terra que será ou não, daqui a quarenta e dois anos: 2050. O tempo é o único imutável e constante que sei, não mudará, continuará correndo indiferente a meus pedidos tolos, imperativos. No entanto, a curiosidade de hoje me impõe esforço taurino, forte e persistente. Ajuda-me tempo, meu tempo interno, meus olhos futuros acesos no escuro, ajuda-me!
Um fecho de luz se expande e vejo: estamos velhos, minha geração. É difícil aceitar essa realidade, por isso há algo muito embaçado nessa visão. Esses seres frágeis, modificados, resistindo a dores inexplicáveis e recorrentes, nós. Rejeitamos essa face em que a vida, cabelos brancos, parece diluir de tão gasta. A morte sem capas ou disfarces senta-se ao lado e ri misteriosa, não parece ser um ponto final, cala-se reticente. Nossos pais mortos, nossos filhos já na faculdade, os netos com a mesma inocência que tínhamos: "parece que foi ontem".
O gado no campo, no campo-cidade, rumina no pasto alheio e sem desconfiar que sua vida é prioridade. Outros animais foram banidos por ganância e crueldade, ocupam algumas páginas da Internet para saciar curiosidades: "Que interessante, estranho, medonho!!!" eu penso o mesmo, às vezes, sobre a humanidade.

A retina se turva e nega destruições irreversíveis por crença e investimento neste mundo de agora. O lixo no chão, as árvores cortadas, o excesso despreocupado são movimentos que desprezam as ações e os seus efeitos. E eu me nego a ver um Mundo feio com crianças tristes dizendo que a culpa desesperada é nossa, de um corpo chamado homem, inteligência paradoxal, predador do mesmo amor que engendra, das mesmas práticas, cujos objetivos são respeito à vida e ao semelhante.
As ruas, nossas indústrias? Reservo algum medo do amanhã.
Reza, ora, sonha essa criança que me habita. Quero abraçar aquele nosso amigo, ensinar algo de bom ao vizinho, a mãe que está perto, ao sobrinho rebelde, a gente que caminha e caminha e caminha sem se perguntar "para onde?". Nós marchamos: Josés, Marias, pedreiros ou presidentes. Todos somos pais de um futuro que será, ou não.
Mas o futuro será. Nossas crianças sorriem, acenando como quem diz "Levanta!". Tolice rejeitar esse afeto. Inútil apenas ser culto e falar bonito. É preciso sorrir, tocar, ser quente, amigo, inimigo, gente. É preciso olhar para o céu e ver pássaros e estrelas, sentir a chuva bater na pele, olhar nos olhos de um animal ferido, respirar e cuidar deste ar que adentra no pulmão, esta água que circula nas veias sangüíneas. É preciso delicadeza, gentileza, carinho no sexo, na vida. Quando acompanhadas de respeito, as ações e os sentimentos mais incomuns tendem a ser, no mínimo, respeitados. E assim, meu coração, que de respeito e amizade se toma, crê que o homem de hoje levantará e fará de 2050 algo bem melhor do que, confusa, previ até aqui.

Comente: Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?