sexta-feira, julho 10, 2009

Leitura e Escrita: um ponto de vista
Daline Rodrigues Gerber, 2006.

Antes de aprender a escrever nunca sabemos, de fato, a importância que este aprendizado trará a nossa vida. No meu caso, a leitura veio antes da escrita, o desejo de ler era bem maior: queria saber o que estava escrito nos livros, principalmente nas revistas em quadrinho que foram o começo de tudo para mim. Mas logo percebi que escrever era um meio de expor e demonstrar meus sentimentos, por isso comecei a escrever enumeras cartas para meus pais, para os professores que eu amava e escrevia também poemas para a natureza.

Hoje minha relação com a escrita é muito mais intima do que com a própria leitura. Não sei se isso se dá por uma resistência preconceituosa a alguns livros que sempre julgo desinteressantes ou por uma real dificuldade de encarar sem medo qualquer leitura, qualquer estilo ou tipo de texto, seja ele ficcional ou teórico. Se eu fosse dizer que gosto de ler qualquer coisa, estaria mentindo e não é de minha índole fazê-lo. Leio com satisfação poemas, contos e livros bem doidos, como Macunaíma. O começo das leituras de livros que não se enquadram ao meu gosto quase sempre são sacrificantes, desatentos, um horror para quem cursou Letras, mas com muito sacrifício termino a leitura sempre cheia de opiniões e enriquecida de saberes também. O prazer da leitura me vem bem depois do ato, vem na idéia de que eu sei aquilo, eu domino o conteúdo ou do próprio reconhecimento de que o enredo era bom, de que eu deveria reler para prestar mais atenção. O grande tédio da leitura está na solidão deste trajeto, ali não há diálogo nem retorno do outro, as vozes não existem, existem apenas as imagens do leitor, a conversa consigo mesmo e a busca trabalhosa do entendimento, por isso as coisas se mostram mais vagarosas, ruminantes até. Ao ler estamos entre dois mundos: um que é acelerado, conta, informa uma série de coisas rapidamente pela linguagem oral e outro que requer tempo para ser decifrado, entendido e internalizado. Para uma pessoa altamente socializada, adaptada ao cotidiano acelerado, ao caos das informações caindo de pára-quedas em sua cabeça, é muito difícil olhar e se concentrar num livro sem querer participar dos barulhos que ocorrem a sua volta.

Estranho muito o distanciamento em que a leitura e a escrita se deram em minha vida, gostaria muito de descobrir porque é assim, por que motivo gosto mais de escrever do que ler. Quando escrevo, desejo que alguém leia, uma pessoa especifica ou não. Se me é tão importante o leitor, por que não consigo ser também uma boa leitora?

Gosto muito de escrever poesia, talvez pelo nível de sua complexidade, talvez por ela fingir que alcança sensações metafísicas ou pelo seu alto grau de liberdade, coisa que não acontece num texto informativo ou mesmo dissertativo que evitam contradições ao máximo. Num poema, a verdade ou a mentira é só do autor e ele a divide com quem quiser, o que menos interessa para quem faz e para quem lê uma poesia é a sua veracidade, o que fica em evidência é, principalmente, o reconhecimento das possibilidades.

De alguma maneira o ser humano sempre terá a ambição de se eternizar, se não for possível fisicamente, tentará que seja através de suas memórias. Eis que a escrita, para mim, faz-se hoje importante pelo seu grau de durabilidade, enquanto alguém me quiser ler, eu estarei viva.

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