terça-feira, julho 07, 2009

No palco da vida, o exercício do abraço
(Daline Rodrigues Gerber)

Vive-se
Vive-se todos os dias
Vive-se e fala-se
Vive-se e fala-se e cala-se
Cala-se e morre-se
Morre-se mas caminha-se

A ponte do desejo
A ponte é do desejo
A ponte é a do desejo de vida
E a ponte e a vida é o desejo de alcançar
O desejo de alcançar
O desejo de alcançar o riso e a lágrima
O desejo de alcançar um outro igual
Um outro igual!

Um outro igual para olhar
Para olhar e tocar
Para tocar e perder
Perder e chorar
Perder e querer que não
E querer que nunca
E querer que não nunca o outro igual se vá
Porque o outro igual é o outro eu
Mas lá se vai o outro eu...

Que sensação estranha...
Meu corpo todo esticado
Meus braços estendidos
Pedindo e implorando
Que a outra parte de mim se cole
Volte, volte, volte
Como se tivesse mesmo sido germinado comigo
Uma mesma mãe, uma mesma placenta,
Uma mesma gestação
Volte!
A humilhação mais sincera
Volte meu irmão!

Ele ouviu e olhou
Ele ouviu
Ele olhou
O coração suado de tanto gritar o que ninguém escutou
Mas ele escutou
Escutou e parou

Pausa para o olhar

O olhar e o sorriso finalmente oferecidos
A compaixão
A com-paixão
Ele também sofreu e eu não entendi
Ele também pediu e eu não ouvi
Mas agora eu ouvi
Agora eu entendi
Estávamos mudos
Mudos e submersos no medo
Estávamos mudos, gritávamos mudos

Eu o ouvi e olhei
Eu ouvi
Eu olhei
Uma vibração invisível nos puxava
Uma energia, uma luz colorida
Meus pêlos adormecidos acordaram
Meus pêlos, meus braços, meu suor
Eu e o outro eu
O outro semelhante, o outro eu, eu
Que confusão! Que fusão!

Nos queríamos cada vez mais
Cada vez mais o desejo nos impulsionava
Cada vez mais o medo nos prendia
O desejo
O medo
Medo de que?
Medo de não ter ouvido
Medo de não ter ouvido
Medo de não ter dito

Ele exita, eu exito
Os olhos se perdem
Baixam, cabisbaixos...
"Não desistam!"
Uma voz ordena
Uma voz externa?
Não
Interna é a voz
Interno é o desejo e a voz sabe
A voz da loucura
A voz do equilíbrio
"Não desista!"

Voltamos a nos olhar
Mas agora éramos bichos no cio
Éramos bichos de silêncio e choro
Éramos filhotes
Pequenas criaturas correndo ao encontro uma da outra
Tão pequenas criaturas
Tão pequenas...

Doeu a força do nosso encontro
Doeu a força do nosso desejo
E os corpos pequenos e iguais
Machucaram um ao outro
Estávamos a 100km por hora...
Duas máquinas
Duas maquinas humanas
Que agora descansam nos braços uma da outra

Obrigada pelo abraço
Obrigada
O abraço cansado no palco da vida
No palco cansado da vida o abraço
Quando eu estava caindo no espaço
Quando eu estava caindo o abraço
Eu não sabia que estava caindo
Ele me segurou
Ele me amparou
Ele não sabia que estava caindo
Eu o segurei
E o amparei
Obrigada


"Vá para casa bem"
Disse ele
E eu continuei a cair no espaço
A dançar no espaço
A rir no espaço
Muito mais acompanhada de mim.

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