sexta-feira, junho 10, 2011


CULTURA SURDA

Por Daline Rodrigues Gerber

Cultura é um conjunto de manifestações ideológicas e comportamentais compartilhado por um grupo substancial de pessoas. As culturas podem interagir umas com as outras ou serem suprimidas por uma cultura dominante.

Os EUA, como superpotência, é um bom exemplo para entendermos um pouco como funciona a relação e influência de uma cultura dominante sobre uma cultura pouco evidente. Hoje, a primeira coisa que pensamos quando planejamos conhecer outros países é aprender a língua inglesa falada nos EUA e sabemos também que em qualquer lugar onde formos encontraremos elementos oriundos deste país. Alguns países aderiram numa proporção tão grande a cultura norte americana que é necessário, muitas vezes, viajar a regiões afastadas dos grandes centros para conhecermos grupos que ainda conservam manifestações típicas, nascidas dentro do país visitado. De certa forma, chega a ser nítida a supervalorização da cultura norte americana em detrimento de outras.

Você conhece a cultura surda? Alguns questionarão: “Existe uma cultura surda?” Outros dirão: “Sim, conheço”. Mas o curioso é descobrir que existirão pessoas surdas que desconhecem o que vem a ser uma cultura surda. Toda cultura é propagada, firmada e estabelecida por meio de uma língua, portanto este é um instrumento fundamental para os grupos firmarem suas identidades. É preciso ressaltar, ainda, algo que passa despercebido, muitas vezes: uma língua é uma cultura, ou seja, é um elemento identificador de um grupo, assim: alguém sabe que sou brasileira, porque descobre que falo português brasileiro, bem como eu reconheço uma pessoa estrangeira por seu sotaque e, por fim, identifico uma pessoa surda brasileira por falar utilizando a LIBRAS (Língua Brasileira dos Sinais).

Ao longo dos anos, a comunidade surda, sujeitos visuais, e algumas pessoas que entendem a importância da comunicação vêm trabalhando por uma língua com regras estabelecidas, de forma que nela se preserve uma unidade de entendimento para que possa ser executada em qualquer região do país em que foi engendrada. Hoje, muitos países já instituíram a língua dos sinais como uma língua nacional, a exemplo do Brasil. Este é um passo importante para a educação e para a inclusão social.

Todos sabemos que o individuo começa a entender suas peculiaridades e suas características pessoais e sentimentais na lida com semelhantes inseridos na mesma sociedade em que vive, no mesmo país, no mesmo mundo. Hoje, há consciência suficiente em relação a inclusão social, o que gera entendimento de que uma limitação física não invalida um ser humano, tendo este direito e capacidade para realizar tarefas e se relacionar socialmente tão bem quanto qualquer pessoa.

Entendo que o que move o comportamento de uma sociedade é, em grande medida, o sentimento. Isto pode parecer romântico de minha parte, mas, se analisarmos minuciosamente, diagnosticaremos a competitividade, o consumismo, o desejo de comodidade, o medo, o preconceito, a exclusão como manifestações de sentimentos bem ou mal trabalhadas por uma pessoa ou por um grupo de pessoas. Partindo da consciência de que somos responsáveis ativamente pelas ações sociais e propagação dos sentimentos sociais, entenderemos que, para uma sociedade melhorar, os sentimentos que a movem devem ser educados para o bem. A sociedade é feita por nós. A inclusão não depende de um governo acima de nós, somos o governo. É necessário que sofistiquemos nossa sensibilidade quanto a qualquer ser humano, deficiente ou não, a ponto de que o desejo de inclusão não parta apenas de quem apresenta alguma limitação física ou mental, mas de todos nós, compostos da mesma matéria, necessitados de comida, bebida, ar, luz, plantas, animais... e do outro, do outro, do outro que nos enxerga, que produz, que planta, que ama, que sofre, que vive, que morre.

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